quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Golpe

Um comentário:

Achel Tinoco disse...

O homem bateu à porta da embaixada:
— Dá-me abrigo — disse ao senhor engravatado que o atendeu.
— Por que precisas de abrigo, se tu me pareces um cidadão nativo?
— Por que quero voltar ao poder.
— Então já tiveste poder?
— Eu era o mandatário deste país.
— Não és mais?
— Fui deposto.
— Então que vieste fazer aqui?
— Já o te disse, senhor, não escutas bem?
— Sim, mas se queres abrigo, é porque não estavas no teu país...
— Isto não te interessa, basta que o teu governo me dê abrigo.
— Abrigo ou asilo?
— Preciso de um pouso para descansar o esqueleto, senhor, andei mais de quinze horas para chegar...
— Preciso falar ao embaixador.
— Tu não és o... Por que me fazes perder tempo, ou preferes que eu receba um tiro pelas costas?
— O mundo está mudando...?
— Semanas atrás estive com o teu presidente...
— E ele, o que te disseste?
— Disseste-me que não percamos a evidência e a autoestima.
— Se é assim, vou-te acomodar na rede da varanda.
— Para mim isso basta, contanto que eu possa descansar o meu chapéu e alinhar meu bigode...
— Para tal evento, a água ainda não nos foi cortada.
— Vais então falar ao embaixador?
— Se para ti isso basta, e se já falaste ao presidente...
— Mais uma coisa:
— Dizes tu.
— Acordas-me pelo raiar do sol, quero falar ao povo...
— Se assim procederes, decerto vão-te cortar à bala. Esta casa em pouco vai estar cercada pelas forças do governo.
— As forças do governo sou eu, meu senhor. Boas noites!
Atearam fogo à embaixada. Mas um ditador nunca morre.