domingo, 28 de fevereiro de 2010

Trânsito caótico e barulho infernal






Nem Pavlov explica


A maioria dos indivíduos, quando não está condicionada (fiscalizada e punida), continua sempre desrespeitando o próximo.


Em Salvador, uma lei absurda obriga os proprietários de imóveis a cuidar e manter a calçada em frente, que obviamente é uma área pública. Carros estacionam em cima do passeio, tendo o proprietário que arcar com os custos da destruição. Devido ao crescimento desordenado da cidade, estaciona-se em qualquer lugar. Os engarrafamentos provocam estresse e o impulso de tocar a buzina de maneira frenética, ainda que se esteja numa região de hospitais e clínicas, onde o silêncio (supõe-se) deva ser respeitado. Para piorar o quadro, em ruas como a Padre Feijó, de tempos em tempos, aparece uma kombi com alto-falantes, anunciando em altos decibéis a venda de algum produto. Esta área é chamada de "nobre". Se formos ao subúrbio, o caos se instala.


Por que não uma lei antibarulho que funcione? Uma lei que mande passar um rolo compressor nos equipamentos de som dos carros - aqueles que ocupam os porta-malas, acima dos decibéis tolerados pelo seres vivos, aqui incluídos, humanos e jegues. Por que não fiscalizar e punir também essas oficinas especializadas em caixas de som para carros, a fonte primária de toda a poluição sonora? A Sucom tem se esforçado ultimamente realizando algumas blitzes. Contudo, são medidas insuficientes e inconstantes.





Será que algum prefeito (de Salvador a Camaçari) gostaria de ter um alto-falante num poste ao lado de sua casa, com uma rádio comunitária, ou um carro de um vizinho com una música perturbadora a 110 decibéis? Será que o governador gostaria ter um desses alto-falantes, dia e noite, transmitindo sua programação direcionada ao Palacio de Ondina? Será que os vereadores e deputados também gostariam?


Porque exigir de uma boate isolamento acústico e não de uma igreja? Que falta de consideração com os cidadãos! Que invasão da privacidade é essa? Que perturbação da paz! Ninguém deve ser obrigado a escutar uma programação ou som que não seja de seu agrado ou escolha. O problema do barulho é tão grave como o do álcool e do cigarro. A eleição vem aí e com ela as kombis que anunciam os candidatos em altos decibéis. Não vote em barulhentos!








É fundamental dar um basta neste problema de saúde pública, é necessária uma lei estadual, que una a Polícia e o Detran, para, de uma maneira efetiva e constante, acabar com este flagelo. Uma lei sumária que seja efetivamente cumprida, sem espetáculos exclusivos para televisão. Com blitz: parou, conferiu o som e o tamanho das caixas. Multa e tira o ruído de circulação.


Indisciplina social combina com problemas de educação e cultura. Salvador é a capital brasileira do barulho. Estacionar em local proibido ou emitir sons ensurdecedores é uma resposta incondicionada. Não estacionar novamente no mesmo lugar depois de ser multado, ou o personagem barulhento ter o equipamento de som apreendido, é uma resposta condicionada.


Imaginar o guarda multando, ou um caminhão guincho levando o veículo, ou o rolo compressor passando por cima de potentes caixas de som, se converte finalmente em estímulo condicionado. Segundo Pavlov, "existe o reforço que é o fortalecimento do estímulo incondicionado com o condicionado. O reforço é um acontecimento que incrementa a probabilidade de que ocorra determinada resposta. (…) a complexidade do cérebro humano facilita um segundo sistema de sinais que é a linguagem verbal ou simbólica".


O que não explica que alguém, diante de uma placa de "proibido estacionar", ou "proibido som nesta área", se comporte como o ser irracional do experimento pavloviano.


Osmani Simanca
Jornal A Tarde
01/03/2010




Trânsito caótico e barulho infernal em frente ao Hospital das Clínicas UFBA, Salvador, Bahia

3 comentários:

Tiago A. disse...

Muito bom o texto, existe uma preocupação exagerada do poder público em coisas muito menos nocivas ao bem-estar do cidadão, como por exemplo a acirrada fiscalização na porcentagem de translucidade (neologismo? não sei!) dos vidros "fumê" nos carros, algo que está se tornando item básico de segurança, já que assaltantes em potencial não se aventuram em roubar sem ter certeza de quem está dentro. Ou ainda a comoção nacional de uma hora para outra contra o xixi na ruas. O texto foi feliz em não só apontar o problema como trazer também a solução: As lojas de som. Sim, essas são as grandes responsáveis pela poluição sonora e deveriam ser autuadas e obrigadas a vender apenas equipamentos de som ambiente. Aliás fica outra dica, em Salvador está passando a hora do rodízio de veículos...

Dinho disse...

Muito massa materia e essa foto do transito no hospital das clinicas no detalhe uma placa de proibido estacionar e um monte de panaca com o carro parado em lugar proibido. Se a transalvador atuar nessa rua ai o que vai ser de multa no bolso deles, hein!

Igor Prado disse...

Olá, primeiro parabéns pelo texto e pelo assunto que é algo que também me toca.

Com relação a abordagem teórica é visto que você está equivocado quando fala de Pavlov. Pavlov não falou no conceito de reforço, pois esse foi cunhado por B.F. Skinner na sua teoria do Reforço e do Comportamento Operante. A teoria proposta por Pavlov foi a do Reflexo Condicionado, que explica alguns poucos comportamentos dos organismos.
Acredito que há uma explicação para a sua pergunta final e que a teoria do reflexo condicionada não seja a melhor pra responder, mas sim a Teoria do Reforço e do Comportamento Operante. Isso não é fácil, mas esse é o melhor caminho numa análise comportamental.

Bom, te indicaria ler Skinner, foi um filósofo/cientista maravilhoso.