sábado, 5 de setembro de 2009

35 anos de jornalismo visual

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Por Chico Castro Jr

Trinta e cinco anos de carreira não é pouca coisa, seja em que área for. Em uma atividade tão difusa como a ilustração voltada para o jornalismo diário, que passou por tantas transforma ções nas últimas décadas, então, o valor é ainda maior, pois o que não falta é conhecimento para passar. Reinaldo Gonzaga, carinhosamente conhecido como Rei pelos amigos e colegas, é uma dessas figuras. Ilustrador do jornal A TARDE desde 1974, este itabunense começou ainda na redação da Rua Chile, “no tempo em que se fazia tratamento de imagem com tinta guache e pincel”, conta.

Após 35 anos na redação, este homem de maneiras discretas e fala pausada se aposentou do jornal com uma grande saudação de seus pares pela competência, criatividade e dedicação com que exerceu suas funções. pioneiro – Precursor das técnicas de infografia no jornalismo baiano, Rei foi, na prática, o primeiro infografista da Bahia. Mas não perguntem isso a ele, pois seu talento só é menor que sua modéstia. “Quando eu quero aprender alguma coisa, eu vou direto na livraria e compro um livro”, ensina. Mesmo assim, veio de Itabuna para Salvador, “na cara e na coragem”, para cursar a Escola de Belas Artes na Ufba. “Passei no vestibular e me joguei pra cá. Naquela época, eu já tinha uma iniciação em desenho através do curso por correspondência do Instituto Universal Brasileiro”, conta. Pelo IUB, recebeu um livro do célebre ilustrador hiperrealista americano Andrew Loomis, a quem ele considera seu primeiro mestre. “Depois, na EBA, abri a cabeça. Gostava muito dos trabalhos de Jayme Cortez, Ziraldo, o pessoal do Pasquim”, lembra. “Depois que eu li o livro do Jayme (A técnica do desenho) foi que eu quebrei o tabu: saí dos padrões, vi que a coisa era livre. Você pode riscar e rabiscar à vontade – até a imagem aparecer”, garante.

Para ele, o cartunista e colega de A TARDE Cau Gomez é “um exemplo de artista brilhante, de técnica totalmente fora dos padrões. Seu desenho parte de uma nova linguagem de ilustração, apesar de ter elementos clássicos. É um expressionista”, define. Agora aposentado, Rei garante que não fica parado nem por um segundo – até por que continua criando e trabalhando no Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), fazendo programação visual.

Em casa, prepara-se para voltar à atividade que deixou parada por falta de tempo: esculpir. “Estou muito ansioso pra fazer escultura, mexer com solda. Vou reanimar esse velho sonho”

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Artista de A TARDE atravessou todas as mudanças da mídia


Em 1974, o jovem Reinaldo Gonzaga era um despretensioso estudante na Escola de Belas Artes na Ufba. Vindo do interior, havia deixado a família em Itabuna e vivia sozinho em Salvador. Tudo para garantir um diploma de nível superior da prestigiosa Universidade Federal da Bahia. “Um dia, um colega me avisou que Menandro Ramos*, que era então chargista de A TARDE, havia morrido. Para substituí-lo, a direção instituiu um concurso. Fui lá e me colocaram pra fazer uma caricatura do então secretário de redação, o jornalista Cruz Rios. Me saí bem e, depois de algum tempo, mandaram me chamar”, lembra Reinaldo. “Trabalhei quase esse tempo todo (35 anos) à noite. Foi bom pra mim, por que na época, como eu estava cursando a Ufba, tinha tempo durante o dia para frequentar as aulas e estudar”, conta. Nessa época, quando a redação de A TARDE ainda era no elegante edifício em art decó da Rua Chile, Reinaldo começou tendo que fazer retoque em radiofoto. “Elas chegavam todas rabiscadas, manchadas. Então, toda foto que ia pra primeira página tinha que ser retocada. Fazíamos isso com pincel e tinta guache“, rememora. No fim da década de 70, o jornal mudou-se para a atual sede, na esquina entre a Avenida Tancredo Neves e a Rua Milton Cayres de Brito. “Aí abriram novas vagas para cartunista e ilustrador. Passamos a ser em três. Todo dia tinha um pequeno concurso interno para ver quem emplacava a charge da página 3. Fazia muita ilustração pra economia também. Fiz isso durante muito tempo”, continua.

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Com a constante modernização dos processos editoriais, todo mundo teve que se atualizar para não ficar de fora do mercado. Reinaldo atravessou esse período de transição com notável galhardia e talento. “Hoje em dia, além dos programas de edição de imagem no computador, há muitos outros recursos para retocar. Nesse sentido, o jornal A TARDE foi uma escola, foi onde eu aprendi desde o clichê-traço até a linguagem informatizada, com Photoshop, Illustrator etc. Foi muito gratificante conseguir atravessar todas as fases que o jornal passou”, constata. Quem vê o sereno Reinaldo falando, nem imagina seu dinamismo. Em casa, para “descansar”, pratica carpintaria. Nessa brincadeira, criou sozinho praticamente todos os móveis de sua casa. “Sou muito inquieto, não consigo ficar parado”. Ócio produtivo é isso aí.

*Na matéria foi dito que Menandro tinha morrido. Menandro na verdade está vivo e é professor da Faculdade de Educação da UFba. (veja aqui o website de Menandro)

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