segunda-feira, 18 de maio de 2009

Conjugando o verbo rapio

A roubalheira estabelecida no Brasil d’antanho levou o principal orador-sacro da língua portuguesa, o padre Antônio Vieira, a produzir em 1655, o seu famoso Sermão do bom ladrão, que não perdeu a atualidade nestes dias, quando, entre outros escândalos, convivemos com o do “deputado que está se lixando” que pretendia absolver no Conselho de Ética da Câmara Federal “o deputado do castelo”. Segue trecho do sermão. “Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos da arte, não falando em outros novos e esquisitos. (…) Começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo potencial, porque, sem pretexto nem cerimônia, usam de potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem o fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos”.


Biaggio Talento

Nenhum comentário: