Terrivelmente diabólico o laboratório de maldades dos políticos. Sempre a maquinar invenções que se resumem a aumentar as já polpudas altas rendas e ampliar seus extraordinários benefícios. Sim, pois político que se preza não quer gastar do próprio bolso nem com ligações de telefone celular para falar com filhas que, eventualmente, resolvem atravessar o México de ônibus, como foi caso da “lindinha” do senador Tião Viana (PT-AC). Ele, pai zeloso e preocupado, emprestou seu aparelho pago pelo Senado (ou seja pelo dinheiro dos impostos) para que a menina pudesse falar com ele, descrevendo as belezas mexicanas durante a jornada. E como falam os dois! R$ 14,7 mil reais foi a conta do celular, que seria colocada na conta do povo se o escândalo não viesse a lume por essa perseguidora implacável da classe política que é a dona Imprensa. Não chegamos nem à metade do ano e já não se pode contar nos dedos das mãos (e dos pés) a quantidade de escândalos perpetrados pela nossa elite dirigente. Houve o caso do amigo de José Sarney, o ex-diretor do Senado, Agaciel, e sua mansão não declarada ao Imposto de Renda; a descoberta da inflação de diretores naquela mesma Casa cujo número disseram girar em torno de 180, entre os quais “diretor de garagem” e “diretor de check-in”; a empregada doméstica que o deputado federal licenciado Alberto Fraga (DEM-DF) colocou na folha de pagamentos do seu gabinete na Câmara; a funcionária fantasma mantida pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) há seis anos também paga com dinheiro público; o jatinho fretado pelo multimilionário senador Tasso Jereisatti (PSDB-CE) às expensas do erário público; a reforma dos apartamentos funcionais do Congresso, orçada em R$ 150 milhões, cancelada após dona Imprensa falar sobre o assunto. Enfim, é preciso ter fôlego para acompanhar tudo isso, pois essa turma é mais rápida no gatilho que Billy The Kid. Outro dia um vereador paulista nissei do DEM, que recebe um subsídio de R$ 9 mil por mês, apareceu balbuciando na TV sem saber explicar com que dinheiro estava construindo um palacete de R$ 2 milhões, naturalmente também sonegado ao Imposto de Renda. Evidentemente o fenômeno não podia deixar de contaminar a Bahia e eis que num belo dia desse quente outono somos informados que os vereadores de Salvador, em início de mandato, na falta de coisa melhor a fazer, resolveram colocar nos trilhos (já que o metrô tá difícil de sair) um autêntico trem da alegria, criando mais 41 cargos de assessoria com a singela justificativa de que tá faltando técnico para assessorá-los. Realmente deve ser muito difícil cada vereador poder empregar apenas 23 assessores, todos certamente com atribuições das mais úteis para a cidade, embora a população não consiga enxergar essa utilidade. Agregado ao trem, aumentaram os valores das quotas do combustível – salvo engano pela quantidade de litros cada carro dos gabinetes poderia para ir e voltar ao Espirito Santo sem ficar no prego – e do tíquete alimentação. Tudo legal, evidentemente, pois essa turma não costuma se meter em coisas ilícitas. Ocorre que o escândalo não foi bem recebido pela cidade, como se pode verificar pelas reações de indignação às informações contidas na matéria de Patrícia França publicada no jornal A Tarde, sobre o assunto, que mostrou como uma iniciativa legal pode ser imoral. A intervenção do Ministério Público Estadual completou a tarefa de descarrilar o trem. Agora, como sempre acontece nos casos em que a classe política é pega com as calças na mão, os que tiveram seus planos frustrados atacaram quem colocou água no chope da festança. Esse foi o tom dos discursos dos ínclitos edis de Salvador no “dia seguinte” ao escândalo. Ninguém esperava que algum vereador subisse à tribuna da Câmara para fazer o mea culpa e pedir desculpas à população pelo episódio. Seguiram o protocolo em casos do tipo. Reclamaram da promotora Rita Tourinho, que barrou o trem da alegria e da dona Imprensa, como é de praxe. Os deputados e senadores tem o mesmo sentimento em relação à Imprensa. A cada escândalo descoberto reclamam do “cerco” empreendido pela mídia aos representantes do povo. E essa eterna batalha continua. O laboratório das maldades continua a plena carga, maquinando as próximas estratégias – afinal estamos no início do ano - e preocupando-se a não chamar a atenção de dona Imprensa, do Ministério Público e das ONGs que acompanham os gastos públicos e tem a antipática tarefa de ser o desmancha prazeres da história.
Biaggio Talento
Um comentário:
Brilhante esse editorial! Somente a verdade e nada mais! É com esse espírito que queremos os nossos jornalistas! Deus os abençoe.
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